02/02/07

Crimes ambientais

"Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Se não somos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? (...) O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morto vai vagar por entre as estrelas. (...) Sua voracidade arruinará a terra deixando para trás apenas um deserto. (...) O índio prefere o suave sussurro do vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo o pinheiro. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum – os animais, as árvores, o homem. (...) E se vendermos a nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres. (..) De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. (...) Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará.”

Carta escrita em 1855 por um índio norte-americano, de nome Seattle, cacique da tribo Duwamish, para o então Presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce.




Tráfico de animais

O Brasil possui uma das mais modernas leis de crimes ambientais do mundo. Nos últimos anos houve um esforço de fiscalização, resultando num maior número de multas e prisões.
O tráfico de animais é o terceiro maior comércio ilegal do mundo, movimentando cerca de US$ 10 mil milhões por ano, só perdendo para o tráfico de armas e de drogas. Os maiores consumidores são os países da Europa, o Japão, os Estados Unidos e recentemente a China.

Madeira ilegal

Entre 60% e 80% da produção de madeira da região amazónica ocorre de forma criminosa. A produção ilegal de madeira é considerada a porta de entrada da desflorestação na Amazónia. A indústria da madeira ilegal está associada à grilagem de terras, invasão de terras públicas e áreas protegidas e à abertura de estradas que facilitam a desflorestação e as queimadas para a produção de grão ou gado.
Para acabar com esse processo e, consequentemente, desencorajar a desflorestação, o Greenpeace trabalha, desde 1999, no combate à madeira ilegal. Esta Organização já conseguiu a demarcação da terra indígena Deni, ameaçada por uma madeireira da Malásia; a criação de uma reserva extractiva “Verde para Sempre” e outras áreas protegidas no Pará; a restrição legal ao comércio nacional e internacional de mogno, madeira conhecida como ouro verde.

Incêndios

Na Amazónia o fogo é uma prática quotidiana e tradicional. Desde pequenos produtores até grandes proprietários rurais utilizam o fogo para preparar terrenos para a agricultura e a pecuária. Esta é uma forma rápida e económica de adubar a terra e fazer o controlo de pragas e doenças dos plantios.
Nem todo o foco de calor constitui um incêndio, podendo ser muitas vezes queimada de limpeza de pastagens. O incêndio é um fogo sem controlo. As florestas vizinhas ao fogo também são afectadas pelo calor, que corre pelo solo da floresta, queimando as sementes depositadas à espera da chuva. É o chamado fogo oculto.
As queimadas e a desflorestação interferem no clima mundial contribuindo para o super-aquecimento do planeta (efeito estufa) pela emissão de carbono ou alterações na humidade atmosférica.

Soja

Entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004, a Amazónia perdeu 27.200 km2 de florestas. Quase metade dessa percentagem ocorreu no Estado do Mato Grosso. O motivo: a expansão das lavouras de soja no norte do Estado, avançando sobre áreas de floresta amazónica.
Impulsionados pelas exportações, necessárias para manter a balança comercial brasileira com saldo positivo, a soja e outras commodities agrícolas vêm-se tornando uma grave ameaça à floresta. A cultura mecanizada da soja exige extensas áreas planas contínuas para o plantio, obtidas através da ampla desflorestação. Mais além, os pacotes tecnológicos associados ao cultivo da soja, que incluem o uso intensivo de fertilizantes químicos, agrotóxicos, e sementes transgénicas devem acarretar efeitos imprevisíveis sobre os complexos e delicados ecossistemas amazónicos.
A concentração fundiária e a substituição da agricultura familiar por uma monocultura altamente mecanizada são as mais graves consequências sociais da expansão da soja na Amazónia. A população, expulsa das suas terras tradicionais, amontoa-se nas periferias das cidades amazónicas em busca de uma vida melhor.
O comércio internacional da soja trouxe riqueza e desenvolvimento para poucos em algumas áreas e gerou milhares de hectares de floresta destruídos, terras públicas invadidas e degradadas e comunidades desalojadas e ameaçadas. Por todos estes motivos o Greenpeace é contra a expansão da soja na região amazónica. O desenvolvimento económico na região amazónica não deve estar baseado na conversão da floresta pela soja, mas no uso responsável dos recursos florestais. Surge a palavra de ordem – “Acabe-se de comer soja antes que esta coma a Amazónia”.

A Amazónia e a produção de frango barato

Investigações recentes do Greenpeace comprovam as conexões entre os produtos vendidos pela KFC na sua rede de lojas europeias e a destruição florestal da Amazónia provocada pelo avanço da soja, plantada na região e destinada à exportação. De acordo com fontes da indústria, a KFC compra frangos da Sun Valley, empresa do grupo Cargill.
A KFC orgulha-se de ter uma receita secreta para os milhões de frangos fritos que vende a cada dia. Na verdade, os ingredientes dessa receita são: desflorestação, trabalho escravo, uso massivo de agrotóxicos, grilagem, posse ilegal da terra e a extinção de espécies raras “, afirma Paulo Adário, coordenador da Campanha da Amazónia, do Greenpeace.
Um artigo na revista científica Nature, revelou que 40% da Amazónia será destruída até 2050 se a fronteira agrícola continuar a expandir-se ao ritmo actual, caracterizando uma enorme ameaça à biodiversidade e contribuindo para o desequilíbrio climático.
Carla Mondim

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